Sou a menina da beira do Rio Amazonas, desde muito nova tentando explicar o meu lugar, ou o termo mais recente, o não lugar.
Não é preta, não é branca, não é índia. É assim, marronzinha, igual que nem a cor do Rio Amazonas.
Não sou ribeirinha. Também não sou rica, nem sou pobre, o não lugar.
As pessoas têm dificuldade em entender a existência de uma Amazônia não estereotipada. É só o mato que veem na tv.
“mas lá onde tu mora tem tv a cabo?”
O jacaré não anda na rua, mas às vezes o jabuti tá no quintal do vizinho, e às vezes na panela.
A mandioca, maniva tá em todo lugar, no prato, na maniçoba, na farinha, no tucupi. Mas cuidado no cozimento, viu? Pode fazer passar mal.
Os arranha céus também, do nada em todo lugar, cuidado ao olhar pra cima, pode fazer passar mal.
Metrô não tem porque o lençol freático não permite.
Mas outras coisas supostamente não permitidas também se fazem presente.
Tem gente que mora em cima d’água, e tem gente que aterrou lugar pra morar em cima
O resultado é que alaga
Se